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17
mar-2014

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Na aldeia casa é para descansar e dormir, os panará dormem em rede ou cama feita por eles mesmos. Antigamente panará dormia no chão, as casas eram grandes e moravam muitas famílias junto com o sogro. Hoje em dia as casas podem ser menores, mas sempre a cozinha fica para fora da casa. Para cozinhar, usa-se fogo de chão, a cozinha fica no quintal de cada casa, é uma casa sem parede, é um espaço onde se tem redes para descansar e utensílios para cozinhar.

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Ao lado das cozinhas, geralmente os Panará, fazem jiraus para colocar coisas como panelas, armanezar água, guardar mingau, alto o bastante para bichos e crianças não mexerem. Jiraus são parecidos com mesas, só que bem mais alta. Agora, imagine que você é uma criança e encontra um jirau como esse. Em baixo deles são casinhas perfeitas! As crianças fazem muitas coisas lá debaixo, fazem redes com toalha, colocam boneca ou elas mesmas deitam, fazem caminhas, fazem paredes com tecidos e assim passam horas a brincar. Criam uma miniatura daquilo que existe na aldeia.

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Existem muitas maneiras de se fazer casinhas, as crianças utilizam os materiais que existem por perto, procuram ?com olhos de quem quer achar?, constroem usando toda a criatividade, usam palhas de casas derrubadas, restos de plásticos e o que mais tiver disponível.

Uma vez estávamos fazendo peão com Sykian, cacique da aldeia, em seu quintal. Foi quando observamos uma brincadeira muito interessante acontecer. Duas meninas começaram a montar uma espécie de casinha, mas ela não seguia uma estrutura convencional com quatro apoios, um teto e paredes, não, ela era inusitada. Era uma estrutura de três paus em pé formando um triângulo, esses três paus eram ligados por dois pedaços de madeiras na horizontal. Em cima desses paus as meninas colocaram muitas coisas, bules, roupa, uma meia imitando uma rede, um carrinho de plástico, até uma bíblia estava fazendo o equilíbrio da instalação. Era como um móbile, a brincadeira tinha a ver com o equilíbrio, conseguir colocar as coisas em equilíbrio, cada objeto era sentido, era verificado o tamanho e peso, encontrava-se um local onde ele pudesse compor com o todo, quanto mais objetos cabiam, maior o desafio, a cada nova conquista, maior a satisfação.

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Aí veio desses aprendizados que custamos a nos lembrar que um dia já existiu em nós. Quando a brincadeira estava rica em elementos e o móbile ganhava complexidade na composição, uma menina foi mexer em um carrinho e caiu tudo, então, para nossa surpresa a risada foi geral, e meninas sem pestanejar e muito menos esbravejar, reconstruíram muitas vezes sua obra, agora muito mais ágeis do que no início, já sabiam o caminho da construção e peso dos objetos, mas o resultado final nunca era idêntico ao primeiro. Esse era o mais legal da brincadeira, construir, cair, rir, construir até cansar.

Tal desapego do brincar é peça essencial da alegria, entrega e disposição que fazem do brincar esse ato de liberdade, coletividade, amorosidade e alegria verdadeira. Não importa tanto o resultado, o essencial é o processo criativo do fazer.

Texto: Paula Mendonça
Fotos: Paula Mendonça e Renata Meirelles

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